Dois escrivães da Polícia Civil de Dourados pediram exoneração do cargo alegando a falta de valorização e condições precárias de trabalho. Segundo publicação da assessoria do Sindicato de Policiais Civis de Mato Grosso do Sul (Sinpol/MS), a escala de serviço exaustiva e o baixo salário também fazem parte dos motivos que levara os dois policiais pedirem exoneração.
Ângelo Magno Lins, que era policial desde 2004, conta que há anos vê o seu trabalho e de outros colegas de profissão ser desvalorizado pelo governo estadual. “Além da falta de reconhecimento pelo trabalho de risco que exercemos, realizamos dupla jornada, atendendo na delegacia durante o expediente e depois na Depac [Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário] sem receber nada a mais por isso e sem ter um salário digno”, relata o ex-escrivão.
O homem lembrou que sua decisão de pedir exoneração foi baseada na vontade de ter qualidade de vida, o que, segundo ele, não é possível quando se faz parte do quadro da Polícia Civil do Estado. “Sou formado em direito e fui aprovado no Exame da Ordem, portanto vou aproveitar essa oportunidade. Como escrivão estava completamente desmotivado e sem perspectiva”, explicou.
Além dele, Aquis Junior Soares também deve entregar seu pedido de exoneração ainda esta semana na Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp). De acordo com Aquis, com a saída dos dois escrivães, a carga de trabalho dos colegas que ficam na delegacia deve se complicar ainda mais.
“Ficamos preocupados com os colegas que deixamos na delegacia, pois a escala de serviço já é muito exaustiva e agora, com a saída de dois policiais de uma vez, é bem provável que fique ainda mais sobrecarregada”, desabafa o escrivão que ainda faz parte do quadro da delegacia.
Ainda de acordo com a publicação da assessoria do sindicato, um levantamento realizado no início deste mês pelo Sinpol/MS, junto a representantes de sindicatos de cada estado do Brasil, constatou que Mato Grosso do Sul ocupa hoje o 25º lugar no ranking de salários do país.
O salário inicial do policial civil no Estado é de R$ 2.361,21. No ranking nacional, as primeiras posições ficam com o Distrito Federal (R$ 7.514,33); Sergipe (5.587,41); Amazonas (4.482,00); Paraná (R$ 4.020,00); e Tocantins (R$ 3.930,88).
“A realidade dos policiais civis do estado é preocupante. Apesar de ser uma das polícias mais eficientes do Brasil, Mato Grosso do Sul paga aos policiais civis, o pior salário do Centro-Oeste e quase o pior do Brasil. Não é justo que nossos policiais continuem a receber um salário de fome, que mal supra as necessidades essenciais de uma família”, declarou o vice-presidente do Sinpol/MS, Roberto Simião de Souza.
Roberto explica que o sindicato vem lutando para reverter a situação enfrentada pelos policiais civis sul-mato-grossenses. “Temos nos empenhado em fazer valer os direitos dos policiais civis do nosso estado, para que sejam bem remunerados, pois só assim, vamos continuar contando com uma polícia motivada e representando uma das mais eficientes do país”, fala.
O vice-presidente lembra ainda que uma pesquisa recentemente mostrada pelo da Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública (Enasp), do Ministério da Justiça apontou MS em 6º lugar no ranking nacional em resolução de casos de homicídios.
Reivindicação
No início do mês, durante encontro com o governador André Puccinelli, a categoria reivindicou um aumento salarial de 25% para que o salário inicial de um policial civil se equipare aos demais estados do Brasil.
Além do aumento, a categoria pediu que o critério de promoção funcional, hoje avaliada pelos critérios de “antiguidade e merecimento” passe a ser automática, e somente pelo critério de antiguidade.
Segundo Roberto, as propostas apresentadas pela diretoria do sindicato foram rechaças por Puccinelli.